Entrevista

Entrevista feita comigo pelo jornalista Rodrigo Ramthum
http://estiloshotokan.blogspot.com/2008/02/entrevista-daniel-falco.html
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Blog Estilo Shotokan: Em 2000 você descobriu que tinha Leucemia. Qual a sua primeira reação?
Daniel Falcão
: Total apatia. Não conseguia pensar em nada; nem choro, nem quanto tempo eu iria viver, nem como seria o tratamento... nada. Fiquei quase 1 mês assim. Só depois com o resultado do tratamento comecei a ficar animado.
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B. E. S.: De que forma o Karate te ajudou, e tem ajudado na recuperação?
D. F.:
Fisicamente - deixando o corpo mais preparado para os efeitos colaterais do transplante e dos remédios, que causam algumas vezes sérias complicações;
Mentalmente - 1) mantendo o objetivo em voltar a treinar um dia; 2) criando um sentimento de desapego; sabendo que cada saída de casa ou internação poderia (ou pode) ser a última. Com isso eu me aproximei do budismo e percebi uma ligação estreita entre o Budismo e o Karate de Funakoshi; 3) buscando o domínio sobre a mente em situações de estresse para manter a serenidade. Estar calmo e controlado é muito importante quando você não sabe para onde a situação está te levando; 4) e mais importante: durante o treinamento eu deixava de pensar na vida e nos problemas a minha volta. Pensava apenas em fazer melhor o que estava fazendo (o que me deixou um pouco perfeccionista) - era como uma cachaça: depois que botava o kimono, o dono da academia tinha que expulsar os últimos pra fechar e ir embora.

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B. E. S.: Além do Karate, o que, ou quem, mais te deu forças para enfrentar a doença?
D. F.:
A família e aos amigos. Todos dividiram a responsabilidade do tratamento.
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B. E. S.: No texto publicado em seu blog você afirma que "temos que desfrutar da nossa vida com qualidade. Não adianta ocupar o dia inteiro com atividades e não dedicar um tempo a você mesmo, ou seja, temos que cuidar do nosso corpo e da nossa mente". Você cometeu esse erro?
D. F.: Não exatamente. Trabalhei por 1 ano e meio em uma indústria a 60 km de casa (1:00h ~ 1:30h de viagem) e voltava direto para a faculdade. Engordei muito me alimentando mal. No final deste período, quando voltei a treinar, além de "gordinho", estava estressado e lento. Eu trabalhava em uma área em que via muito isso acontecer (eng. mecânica): pessoas gastando muito tempo trabalhando vivendo no sedentarismo sem nenhum tempo cuidando da alimentação ou do condicionamento físico. E isso tem impacto direto na fisiologia do corpo - agravado com o estresse mental. Mas não foi por causa disto que eu fiquei doente. As causas da leucemia são em maioria absoluta por predisposição genética.
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B. E. S.: Você também afirma que por causa da doença deixou de treinar por uns tempos, mas nunca parou de praticar o Karate Do. Gostaria que você comentasse esta afirmação.
D. F.:
Após anos convivendo com os companheiros de treino, acabamos fazendo fortes amizades. Sempre ligava pra saber dos amigos e "empurrar" aqueles que haviam dado um "tempo" no treino. Também frequentava e incentivava os campeonatos e exames de faixa. Aproveitei a oportunidade para comprar e as vezes até importar livros sobre Karate e assistir e colecionar vídeos (aproveitar já que na minha época de iniciante não havia a facilidade em se achar conteúdo como hoje). Passei muito tempo compilando uma apostila visual para ajudar os iniciantes; reuni trechos de um vídeo e coloquei no Google, além de alguns outros de apresentação. Quando não estava treinando, eu fazia algo no computador para ajudar os outros.
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B. E. S.: Quando você escreveu esse texto contando a sua história, com certeza esperava algo com isso. O que é?
D. F.: Na verdade, o texto foi evoluindo com os anos. Começou com um site que eu tinha (foi um dos primeiros) mostrando que era possível superar o câncer. Depois foi uma forma de "avisar" os conhecidos como eu estava (não necessariamente karatekas) e o que estava aprontando de novo - eu fiquei um pouco famoso no hospital porque com 2 anos de transplante eu pulei de pará-quedas, fiz o exame de faixa e dei um passeio de helicóptero. Os médicos usavam (e usam ainda) meu caso para apresentar em palestras e congressos (porque clinicamente falando, eu fui um caso de sucesso, superando as complicações) e usavam as fotos do meu vôo de paraquedas para ilustrar minha felicidade. Após a minha última internação, acompanhei de perto o sofrimento de outros pacientes e familiares e resolvi então criar um texto mostrando, para quem é saudável, a dificuldade de quem está doente. E para quem é doente, a esperança de que tudo é possível. Por fim, embuti uma "campanha" particular para estimular a doação de medula e sangue. Só quem convive nesse meio sabe o desespero de quem necessita de doadores.
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B. E. S: Desejo a você uma pronta recuperação e que volte o mais breve possível ao Dojo, que é lugar de todo guerreiro. Um forte abraço.
D. F.: Espero que tenha ficado bom e te ajudado. Obrigado pela oportunidade.
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"Oss"

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